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Opinião: Penso que este livro poderá ser qualificado (e não quantificado) como um conto cujos elementos distópicos servem de crítica a uma sociedade que dá mais importância às questões económicas ou financeiras.
As próprias pessoas são números (nós somos números) e tudo pode ser quantificado incluindo o próprio amor.
A narrativa é feita na primeira pessoa e pelos olhos de uma menina, que vive com o pai, a mãe e o irmão, vamos conhecendo certos aspetos dessa sociedade sui generis em que são utilizadas expressões económicas como "contenção orçamental", "desvio colossal" , entre outras. A expressão que mais me intrigou foi "Por Mamon", e após pesquisa verifiquei que é um termo da Bíblia que é usado para descrever a riqueza material e a cobiça. Portanto, numa sociedade consumista e materialista, ao invés de se apelar a Deus, é óbvio que se tem de invocar "Mamon", divindade relacionada com o dinheiro.
A história é bem pequena e tudo começa quando a criança sugere que se compre um poeta (Um poeta e não artista, pois este suja mais!). O poeta ou vate é marreca e é o mais barato que existe na loja. A família leva-o para casa e, para não gastar mais dinheiro, instala-o debaixo das escadas (tal como o Harry Potter). É claro que o poeta não é esquisito e não estranha o acolhimento. Ao princípio ninguém o entende mas quando começam a perceber surgirão algumas mudanças na família.
Gostei muito desta história. Acho que há aqui uma espécie de dualismo entre o materialismo (representada por aquela família) e a parte espiritual (representada pelo poeta, pelo artista ou, em suma, pela cultura). Assim, podemos, de forma divertida, entrar em modo de pensamento crítico e associar à nossa sociedade atual a ideia de que devemos dar importância à cultura.
A cultura não se gasta.Quanto mais se usa, mais se tem.
Um poeta é como quem sai do banho e passa a mão pelo espelho embaciado para descobrir o seu próprio rosto.
Sinopse: Numa sociedade imaginada, o materialismo controla todos os aspetos das vidas dos seus habitantes. Todas as pessoas têm números em vez de nomes, todos os alimentos são medidos com total exatidão e até os afetos são contabilizados ao grama. E, nesta sociedade, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação.
A protagonista desta história escolheu ter um poeta e um poeta não sai caro nem suja muito – como acontece com os pintores ou os escultores – mas pode transformar muita coisa. A vida desta menina nunca mais será igual...
Uma história sobre a importância da Poesia, da Criatividade e da Cultura nas nossas vidas, celebrando a beleza das ideias e das ações desinteressadas.
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Vamos comprar um poeta, de Afonso Cruz
Editado em 2016 pela Caminho
ISBN- 078- 972-21-2799-8