
Em 2019 escrevi sobre a minha crise com o Facebook aqui e a forma como as redes sociais se tornavam um vício, semelhante ao das batatas fritas: satisfazem no momento, mas só nos prejudicam. Nesse tempo já apelava à importância de preservar os hábitos de leitura.
Hoje, ao reler esse texto, percebo como continua atual. O problema já não é o Facebook, é o instagram, o tiktok e o scroll infinito das redes sociais. Pais e filhos, lado a lado, presos ao mesmo ecrã, a deslizar sem parar. E depois, com surpresa, muitos admiram-se quando se fala no fim do Plano Nacional de Leitura. Mas como manter vivo um programa que promove os livros, se ninguém lê? Se os livros são substituídos por vídeos de 30 segundos, por frases rápidas que não pedem reflexão?
Não é apenas a questão do “tempo a mais nas redes”. É um verdadeiro mudança de paradigma. A informação tem de ser instantânea, sem esforço, sem demora. Enquanto isso, a tecnologia avança, cria atalhos, promete pensar por nós. Mas será que ainda sabemos pensar sem ela?
Ler nunca foi apenas um passatempo. É um ato de resistência. É a forma mais simples e poderosa de aprender a refletir, de exercitar o pensamento crítico, de não deixar que outros escolham por nós.
A situação lembra a distopia literária Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, onde os livros eram queimados e a sociedade perdia a capacidade de pensar criticamente — e é exatamente esse cenário que enfrentamos se a tecnologia vencer e não houver livros para nos devolver essa capacidade de reflexão.
Por isso, hoje como em 2019, deixo o mesmo apelo: Por favor, leiam. Ensinem os vossos filhos a abrir um livro… antes que a última resistência se perca, que só saibam deslizar o dedo e, qualquer dia, perguntem como se liga um livro.
Estou a exagerar? Talvez. Mas espero que daqui a [outros] seis anos o que me parece agora uma distopia não se confirme como realidade - e como dura lição.