Layout - Gaffe
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"Os anos da meia idade, em que já não és nova e ainda não és velha, são nebulosos. Já não avistas a margem de que partiste, e ainda não distingues com suficiente nitidez a margem para a qual te diriges".
Este é o início do livro escrito por Katja Oskamp. A narradora é a própria escritora (personagem), que, após uma crise pessoal e profissional, decide mudar radicalmente de vida e torna-se pedicura.
Oskamp compartilha histórias dos seus clientes e estes relatos, aparentemente mundanos, revelam profundidade e complexidade humana.
Numa escrita despida e poética ao mesmo tempo, a autora dá atenção a detalhes sobre o quotidiano dos personagens. Em cada capítulo, cada cliente tem uma história, o que traz diversidade às experiências relatadas e uma visão intimista da vida das pessoas.
No entanto, enquanto leitora, senti que há histórias ou personagens que não são explorados a fundo porque deixamos de seguir determinado personagem assim que começa outro capítulo e outro personagem (sorry, mas não aprecio a estrutura baseada em pequenas histórias que se assemelham a contos).
Em suma, "Marzahn, Mon Amour" é um livro original e reflexivo sobre a vida de pessoas comuns que poderá ser interessante para quem gosta de histórias intimistas e frustrante para quem gosta de mais desenvolvimento e ação.
A recente conversa entre Maria Francisca Gama e Elga Fontes sobre a influência do TikTok na promoção da leitura destacou um fenómeno atual: o aumento do interesse dos jovens pela leitura graças a esta plataforma.
Durante o debate, ambas as interlocutoras realçaram os aspetos positivos desta tendência, como a revitalização do hábito de ler entre os jovens e a criação de uma comunidade literária inovadora e criativa.
Entretanto, também foram mencionadas algumas críticas pertinentes. Por exemplo, o algoritmo do TikTok, ao sugerir os mesmos livros para todos, pode limitar a diversidade das leituras, resultando numa experiência literária homogénea.
Foi, ainda, debatida a questão dos triggers warning, questionando-se se esta prática não estaria a proteger em excesso os leitores, limitando, assim, o seu crescimento pessoal ao evitar temas desafiadores.
Em suma, a conversa foi enriquecedora e muito relevante, abordando tanto os benefícios quanto as preocupações emergentes deste fenómeno contemporâneo.
"Vislumbres de Ti", o primeiro romance de Alexandre Oliveira, transporta o leitor para um mundo de fantasia onde o mago Nasir se prepara para se casar com Helga. Nasir é o personagem central desta narrativa, que alterna entre o presente e o passado de forma inesperada.
Quanto à capa do livro, embora transmita uma aura mais técnica, infelizmente, não faz jus à narrativa, ou a um romance de fantasia, e poderia ser melhorada de forma a refletir o conteúdo da obra.
Um dos pontos altos do livro é a maneira como o autor explora as emoções de Nasir, como exemplificado nesta frase: "O desejo de mudar as circunstâncias era tão acre que o queimava por dentro e o feria por fora que os seus olhos humedeceram novamente apesar da calma no quarto."
Achei bastante intrigante nesta narrativa o Espelho de Alma, dado que acrescenta uma camada de mistério à trama. Este objeto mágico tem um papel significativo na história e na jornada emocional de Nasir.
Já os contornos deste universo fictício são, para mim, algo nebulosos, o que dificultou a imersão completa na história. Uma descrição mais detalhada do cenário, dos personagens e das hierarquias mágicas teria ajudado a criar uma ambientação mais clara e envolvente para o Urik e a Helga, assim como os restantes personagens (fiquei a saber pouco sobre eles, no entanto, já não penso o mesmo relativamente à mãe irritante de Nasir, Alana,).
Concluindo, o autor aborda temas emocionais como luto, amor e auto descoberta, criando um mundo onde a fantasia é ofuscada pelo mundo complexo das emoções. Cabe por isso ao leitor realizar uma análise dos estilhaços da alma, reconstruindo cuidadosamente as peças para compreender plenamente a profundidade emocional presente na obra.