Ultimamente, tenho lido várias histórias ambientadas na Segunda Guerra Mundial, mas esta, em particular, destacou-se por ser diferente do habitual. De facto não é um thriller nem um romance histórico, mas, sim, uma história alternativa, entre ficção e factos verídicos, e o seu enquadamento num género literário, como thriller, na minha opinião, poderá originar falsas expetativas, por isso aconselho a que não o façam e que mantenham a mente em aberto quando iniciarem a leitura.
Tudo começa com a chegada de uma carta misteriosa ao Papa, alertando-o sobre o plano de Hitler de invadir o Vaticano. Este alerta põe em movimento uma série de eventos que obrigam Pio XII a tomar decisões difíceis para proteger a Igreja. A proposta de Roosevelt para receber a cúria no seu país, em contraste com as alternativas oferecidas por Franco e Salazar, coloca o Papa diante de um dilema moral e político significativo. Optar pelos Estados Unidos implicaria escolher um lado no conflito mundial, enquanto a repressão do regime de Franco torna a Espanha uma opção indesejável. Assim, Portugal, com o santuário de Fátima, surge como o destino mais viável, carregado de simbolismo religioso.
Papa Pio XII, que surge nesta história como o "Papa sem Medo", é o personagem principal que tem de fazer uma escolha difícil em prol do seu compromisso com a Igreja e seus fiéis. A par deste personagem surgem outros, os cardeais com hierarquias definidas, cuja dinâmica de intrigas e conluios políticos quase me fizeram esquecer a violência e a ameaça externa dos nazistas.
Achei mesmo muito interessante conhecer este Papa e as manobras internas na Igreja, uma vez que, talvez por terem uma grande dose de criatividade do autor, ao ficionar as suas personalidade, adicionam uma camada complexa e humana à história.
Aliás, existem vários personagens cardeais que têm ambições nada caridosas, mas a forma como estão descritos e forma como se comportam transmitem irritação, algum divertimento e até, pasme-se, pena do Papa.
A obra, inspirada em eventos verídicos, combina, assim, factos históricos com uma ficção habilmente executada, conseguindo criar uma leitura cativante e gerar interesse em saber mais sobre factos que são, provavelmente, desconhecidos pelos leitores.
"Quando o Vaticano Caiu" é sem dúvida alguma uma brilhante e bem-construída história alternativa que promete prender a atenção e que oferece a todos os leitores uma nova perspetiva sobre os desafios enfrentados pela Igreja durante a guerra.