Tinha de o ler. É Dicker, claro. E surpreendeu-me.
Uma visita ao zoo, um desastre, anos de silêncio… e uma criança que, já adulta, decide contar tudo.
Gostei muito da leveza e do humor da narrativa, assim como da forma como o autor trata temas importantes como democracia, inclusão e diversidade.
Sei que o autor escreveu esta história com a intenção de ser lida por adultos a crianças ou jovens, e a mensagem funciona bem nesse registo.
Agora, a minha reflexão.
No formato em que o livro está, creio que a ideia do Joël é, na verdade, mais para os adultos lerem (ou confirmarem se leem) estas histórias e mensagens — um convite à reflexão e à empatia que talvez nem todos exercitam tão frequentemente.
E essa perspetiva vai mesmo ao encontro da ideia de José Saramago, que defendia que os adultos deveriam ler livros infantis por si mesmos, para reaprender valores simples e essenciais. Como ele escreveu:
“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar ? ".
Em resumo, sinto que fui um pouco enganada aqui. Porquê? Porque este livro não corresponde ao estilo habitual do Joël, que costuma ser mais direto. Ao longo da leitura, deparei-me com um tom de ironia divertida e subtil que me levou a questionar quem será, afinal, o público-alvo desta obra. A mensagem parece estar escrita de forma a captar a atenção dos mais novos, mas ao mesmo tempo provoca uma reflexão profunda nos adultos, quase como um convite para estes olharem para si próprios através dos olhos das crianças.
É um livro que nos desafia a pensar, a sorrir com cumplicidade e a dar voz às pequenas vozes — aquelas que tantas vezes são ignoradas, mas que, na realidade, têm muito a dizer e, por vezes, até têm mais razão do que os adultos.
Já conheciam este lado do Joël Dicker?