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A velhice devia habitar apenas a alma (digo eu)

Três mulheres no beiral, de Susana Piedade

23.03.23

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Sinopse: Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando - ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo - os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.

Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.

Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.

 

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Opinião:  

Este livro foi a minha estreia com esta autora e a escrita deixou-me rendida. Mas...
A história é bastante plausivel, realista e dura, e um tanto a puxar a melancolia, ou não fosse o tema de fundo a velhice, a solidão, sentimentos e segredos de família.
A personagem principal, Piedade, é uma senhora idosa com a qual criei empatia imediata. Ela vive numa casa na Baixa do Porto e o terror instala-se quando os potenciais investidores fazem ameaças para se livrarem dos inquilinos. A meu ver quando há negócios é sempre assim e o pior é quando a família também quer tirar aproveitamento da situação.
Gostaria muito de ter adorado esta história, mas, e agora passo a explicar, fiquei um tanto deprimida, porque a velhice bem que poderia apenas habitar na alma e porque era bem melhor sermos velhos só por dentro e não por fora. 

Este livro fez-me pensar e sentir e há momentos na vida em que prefiro a ficção à realidade. Este foi um deles.Pronto, tenho dito. Em minha defesa argumento que enquanto leitora transporto muito de mim para as leituras e por isso nem sempre tenho a mesma opinião. 

Experiências de quase morte

Estou viva, estou viva, estou viva, de Maggie O´Farrell

20.03.23

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«Quando és criança, ninguém te diz: vais morrer. Tens de descobrir isso por ti. Algumas pistas são: a tua mãe a chorar e, depois, a fingir que não estava a chorar; não deixarem os teus irmãos virem visitar-te; a expressão de preocupação, gravidade e um certo fascínio com que os médicos olham para ti; a maneira como as enfermeiras se esforçam por não te olharem nos olhos; familiares que vêm de muito longe para te verem. Quartos de hospital isolados, procedimentos médicos invasivos e grupos de estudantes de Medicina também são sinais claros. Ver ainda: presentes muito bons.»

Uma doença na infância que deveria ter sido fatal, uma fuga em adolescente que quase termina em desastre, um encontro assustador num caminho isolado, um parto arriscado num hospital com falta de pessoal - estes são apenas quatro dos dezassete encontros com a morte que Maggie O’Farrell, autora multipremiada e uma das vozes mais interessantes da literatura atual, relata na primeira pessoa. São histórias verdadeiras e fascinantes que impressionam, comovem, arrepiam e, sobretudo, nos fazem recordar que devemos parar, respirar fundo e ouvir o bater do coração.

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Opinião:  

Já há muito tempo que queria ler este livro de não ficção, mas só recentemente consegui encontrar o livro na Biblioteca Municipal. Neste conjunto de 17 pequenos textos a autora conta momentos em que a sua vida esteve em risco sempre associado a uma parte do corpo ( coração, cabeça, pescoço, etc). São momentos de alguma preocupação, no entanto, não senti que me estivesse a preocupar muito. Talvez porque a escrita desta autora é simplesmente maravilhosa e cativante. Talvez porque cada história está muito bem contada. Ou talvez porque só me apercebi de que se tratava de não ficção depois de pesquisar sobre o livro e a autora. São muitos talvez, é certo, e creio que a vida também é assim, um conjunto de talvez em que esperamos sobreviver ao dia a dia, aos problemas, mas talvez ainda não seja hoje o dia em que estava destinado a morrer.

Deixo a nota das dúvidas que assolaram o meu pensamento (se bem que que gostei imenso de ler).




Diferenças

Parte 2

17.03.23

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Thriller "à moda" dos nórdicos

O gelo sob os seus pés, de Camilla Grebbe

16.03.23

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Sinopse:

Os inspetores Peter Lindgren e Manfred Olsson enfrentam um crime chocante: uma jovem mulher foi decapitada numa casa de classe alta nos subúrbios de Estocolmo. Um crime que se torna mais perturbador pela semelhança com um assassínio por resolver, dez anos antes. Só que, desta vez, a polícia tem um suspeito.
Jesper Orre é o carismático e controverso diretor executivo de uma famosa cadeia de lojas, e o dono da casa onde a mulher foi assassinada. Nada no seu perfil, contudo, nem mesmo a fama de playboy, sugere que possa ter cometido um crime semelhante. Além de que ninguém sabe onde ele está.
Na busca por um motivo e pelo paradeiro do seu suspeito, os inspetores recorrem a Hanne Lagerlind-Schön, uma brilhante psicóloga comportamental presa a uma reforma e a um casamento infeliz. Mas eles não são os únicos que o procuram. Dois meses antes, Emma Bohman, uma funcionária de Jesper, envolveu-se numa relação secreta com o seu diretor. E tão depressa nasceu o caso amoroso entre ambos, como terminou, quando ele a deixou, sem qualquer explicação. e Emma, devastada e confusa, não descansará até o encontrar e obter respostas às suas perguntas.
Numa busca paralela pelo mesmo homem, Emma e a polícia estão destinados a cruzar caminhos até descobrirem o que realmente aconteceu.

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Opinião:  

 

Mais uma estreia com uma autora que não conhecia: Camilla Grebe. Os nórdicos estão sempre a surpreender com novos thrillers/policiais e acho que o fazem muito bem.

Como não podia deixar de existe crime e detetives com problemas, e a história é contada sob  três pontos de vista, o que enriquece bastante a leitura. Aliás, o enredo está muito bem conseguido, só não gostei muito de ter advinhado final.

É uma ótima leitura para intercalar com outras, "mais pesadas" , ou que demoram imenso para terminar, porque, não sendo uma história propriamente "levezinha",  por causa do sangue, como dirão os mais sensíveis,  é um thriller "à moda" dos nórdicos que prende a atenção.

 

Ainda bem que não gostamos dos mesmos bolos!

Bolo negro, de Charmaine Wilkerson

13.03.23

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Sinopse:

Os irmãos Byron e Benedetta não se veem há oito anos, mas a súbita morte da mãe obriga-os sentarem-se finalmente à mesma mesa. Eleanor deixou-lhes um bolo no congelador com a críptica instrução de que o deverão partilhar «na altura certa».
Para além do bolo, uma homenagem às origens caribenhas da família, há ainda uma longa gravação áudio que abre com uma revelação impensável: Byron e Benedetta têm uma irmã.
Este, porém, é apenas o primeiro dos muitos segredos que a mãe quer agora, depois de morta, revelar, na esperança de emendar alguns erros do passado.

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Opinião:  

Este é o livro de estreia desta autora e, apesar de ter gostado da escrita simples e fluída, não fiquei fã dos personagens que vão sendo introduzidos, rapidamente, ao longo da história, em capítulos demasiado curtos, entre o passado e presente.

O bolo negro é um bolo feito com rum e frutos secos e a receita passa de geração em geração. Uma ligação familiar que dá sabor ao enredo.

Nesta história familiar,  que decorre entre as Caraíbas, passando pelo Reino Unido e pelos EUA, existem segredos e um mistério relacionado com um crime, mas, na minha opinião, surgem demasiados personagens, muitos recomeços e desencontros que são pouco credíveis. Uma miscelânea, que não confere qualquer densidade à história em si, uma vez que não há um aprofundamento.

Fazendo, aqui, uma analogia, é como se houvesse necessidade de juntar mais um ingrediente, depois mais outro, e mais outro, "batendo bem", e surgisse uma história sobre vários temas (racismo, amizade, liberdade e multiculturalismo).

Vou mais longe, ainda, e atrevo-me a dizer que este "bolo" saiu algo queimado - mas se calhar é culpa minha, porque, enquanto leitora, interpretei a receita à minha maneira.

Ainda bem que não gostamos todos dos mesmos bolos, digo livros!

 

Diferenças

Parte 1

12.03.23

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Poe visitado e revisitado

Ou a intemporalidade de um conto

10.03.23

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A página mais visitada deste blog é a história d´O gato preto, de Edgar Allan Poe. O post  em causa não tem novos comentários, não tem uma foto bonita; o conto é bastante mórbido, um horror, e a crueldade sobre pessoas e animais é uma amostra negra do lado mau do ser humano. 

Há quem considere este conto como autobiográfico, digno de estudo pela psicologia, dado que tal como o personagem, o autor tinha um lado obscuro, uma mente perturbada e era um boémio, até que, certo dia, após uma bebedeira, foi encontrado inconsciente numa rua e veio a falecer no hospital, em 1849.

A vida não foi fácil para Poe, o mestre do suspense, terror e da ficção científica, mas as histórias que deixou mostram um génio literário muito à frente do seu tempo. 

Será que intemporalidade do conto é uma explicação para as contínuas visitas dos leitores?

Ou será que o gato preto em vez de azar dá sorte?

Eu não aconselho a que continuem a revisitar só porque fico com muita pena do pobre do gato, mas já que insistem aqui vai: https://olivropensamento.blogs.sapo.pt/o-gato-preto-de-edgar-allan-poe-48496

 

 

Será a ignorância uma bênção?

Flores para Algernon, de Daniel Keyes

09.03.23

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Sinopse:

Flores para Algernon narra a história de um homem com dificuldades mentais que por via experimental procura adquirir o mesmo quociente de inteligência que Algernon, um sobredotado rato de laboratório.

Através de entradas de diário, Charlie documenta o modo como uma operação melhorou a sua inteligência e, por consequência, a sua vida. E, à medida que os procedimentos decorrem, a sua inteligência expande-se até ultrapassar a dos médicos que projectaram a sua metamorfose.

A experiência parece representar um enorme avanço científico, até que Algernon entra numa deterioração súbita e profunda. Poderá o mesmo acontecer a Charlie?

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Opinião:  

Ler este livro é um verdadeiro desafio e eu adoro desafios. Com a mente aberta e alguma persistência consegue-se descobrir o que o autor pretendeu transmitir com esta história de fição científica, que foi, pasme-se, publicada em 1966, existindo, também, uma ou duas adaptações ao cinema.

Charlie tem dificuldades mentais e, por isso, no início do livro os seus relatórios estão cheios de erros ortográficos - um horror, dizem os que não conseguiram ler. Claro que são erros propositados, e que fazem sentido atendendo a que o personagem tem deficiências que não lhe permitem escrever normalmente.

À medida que o tempo passa, após ter sido submetido a cirurgia experimental, Charlie vai adquirindo o mesmo quociente de inteligência que Algernon, um sobredotado rato de laboratório, e apercebe-se de como as pessoas são falsas e como os seus amigos afinal não são verdadeiros. 

Esta história já é um clássico e dá bastante que pensar. Sem dúvida que a evolução da ciência é necessária para curar determinadas doenças, mas, para mim, o principal é que se respeitem todos os seres vivos. Charlie serviu de cobaia e o que lhe aconteceu neste livro demonstra ou é uma prova que a  ignorância é uma bênção. 

Dia Internacional da Mulher

Sou só eu que gosto de receber livros???

08.03.23

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Há listas de leitura que valem a pena, esta é uma delas!

A lista de leitura, de Sara Nisha Adams

07.03.23

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Sinopse:

Mukesh leva uma vida pacata num subúrbio de Londres e tenta manter as rotinas estabelecidas pela sua mulher, Naina, que faleceu recentemente. Vai às compras todas as quartas-feiras, frequenta o templo hindu e tenta convencer as três filhas de que é perfeitamente capaz de organizar a sua vida sozinho.
Aleisha é uma adolescente que trabalha na biblioteca local durante o verão e que, curiosamente, não gosta de ler. Até que encontra um papel amachucado dentro de um exemplar de Mataram a Cotovia com uma lista de livros dos quais nunca ouvira falar. Intrigada, e um pouco entediada com o seu trabalho, decide começar a ler os livros aí sugeridos.Quando Mukesh vai à biblioteca para devolver um dos livros de Naina e pedir outras sugestões de leitura, numa tentativa de criar laços com a neta, Aleisha recomenda-lhe os títulos da lista.

É assim que, livro a livro, vão descobrindo a magia da leitura e encontrando novos significados para as suas vidas.E é através destas leituras partilhadas que Aleisha e Mukesh encontram a força necessária para lidar com os desgostos e problemas do dia a dia e reencontram a alegria de viver.


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Opinião: 

Esta sinopse é longa, mas leva-nos a conhecer esta história maravilhosa sobre a amizade,  improvável, entre um idoso e uma jovem. 
Para ser sincera este é um dos livros que não consegui largar até terminar. Para ser mais sincera, ainda, adorei os personagens e fiquei comovida com certos acontecimentos.

A experiência de ler este livro seria ainda mais incrivel se tivesse lido todos livros da lista. Eu li alguns, o que me ajudou a perceber o que os personagens aprenderam com as leituras e o ponto de vista diferente de cada um dos personagens, assim como as lições que dái retiram e se interligam com as suas próprias vivências.
Eu recomendo vivamente este romance, que é sobre amizade, família e uma verdadeira ode ao amor pelos livros.