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A arte de saber...

ouvir o bater do Coração, de Jan-Philipp Sendker

30.03.23

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Sinopse: Numa aldeia tranquila aninhada nas montanhas birmanesas, há uma pequena casa de chá de aparência modesta onde o calor é sufocante e os habitantes recebem os forasteiros com um olhar prudente. Julia Win, uma jovem nova-iorquina que acaba de chegar, voltaria de bom grado para casa se uma força inevitável não a mantivesse ali. O seu pai, um famoso advogado de Nova Iorque, desapareceu repentinamente sem deixar rasto. 

Nem a mulher nem a filha fazem ideia de onde ele possa estar... até que encontram uma carta de amor que ele escreveu há mais de quarenta anos para uma mulher birmanesa da qual nunca ouviram falar. A carta começa com estas tristes palavras: «Minha amada Mi Mi, cinco mil oitocentos e sessenta e quatro dias se passaram desde a última vez que ouvi o teu coração bater...». 

Com a intenção de desvendar o mistério e entender o passado do pai, Julia viaja até ao lugar onde ele conhecera aquela mulher. Ali, vai sentir o seu pai mais próximo do que nunca, mas... será capaz de o encontrar? 

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Opinião:  

Julia Win é uma jovem nova-iorquina que viaja até à Birmânia para encontrar o pai que desapareceu repentinamente sem deixar rasto com a intenção de o encontrar e de desvendar o mistério sobre uma mulher no passado do pai.E depois? Depois, há um segredo. A história promete ser mágica e provar como o amor que sobrevive à distância e ao tempo. Será assim?


Eu nunca tinha ouvido falar no livro até ser apresentado pela Carla (livros com asas) no último encontro do Clube de Leitura Livros &C.ª. E foi assim que descobri um livro com o qual senti uma imediata ligação, dado que gosto do que é diferente. O título também só por si chama a atenção, mas um bom mistério sabemos que faz maravilhas.


No início da leitura, senti que a história poderia ter sido escrita por um japonês e que o romance se iria passar junto de amendoeiras em flor.

Não podia estar mais enganada.

As montanhas da Birmânia são o pano de fundo. Os personagens não são simples. Nas suas vidas há de tudo, felicidade, tristeza, coragem e traição.
A história desenrola-se a um ritmo que só o leitor tentará apressar. Tudo tem o seu tempo e a seu tempo tudo se saberá.


Desta leitura retirei que "A arte de saber o bater o coração" reside em todos nós na forma simples como damos valor ao que é verdadeiramente importante: o amor.

Na conversa da espuma,

há dias.

28.03.23

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Sei que a vida

que desejo

é ser feliz,

em tempo de acordar.

 

Às vezes a melhor descida

é ensejo

de acertar

o que fiz

no lento caminhar.

 

A entoação dispersa

pelo ar pé-de-vento

entra pelo mar adentro

em elegia à espuma perversa.

 

Bebo tudo num trago

que trouxe

o alento

amargo e doce.

 

As palavras vazias  

envoltas na onda perversa

 significam muito mais,

porque têm o sal dos ais

deixando-se ir na conversa

da espuma, há dias.

 

 

A culpa é do título

O meu ano de repouso e de relaxamento, de Ottessa Moshfegh

27.03.23

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Sinopse: Ottessa Moshfegh, uma das mais importantes novas vozes literárias, narra neste romance os esforços de uma jovem mulher para se esquivar aos males do mundo.

Para tal, embarca numa hibernação prolongada, com a ajuda de uma das piores psiquiatras da história da literatura e com as enormes doses de medicamentos por ela prescritos.

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Opinião:  

Outra estreia, quer relativamente à autora quer pelo facto de ter comprado o livro só pelo título. Vou então culpar o título porque induz uma ideia que não corresponde à verdade.

Na minha cabeça, um ano de relaxamento passaria por ler todos os livros que ainda não li! Ou seja, quando comecei a ler que se tratava de uma experiência de hibernação por um ano à custa de vários medicamentos percebi que não se enquadrava no meu ideal livrólico de relaxamento (embora perceba a ideia de que apagar os sentimentos possa ajudar a ultrapassar o sofrimento com a morte de alguém próximo).

A história passa-se desde o ano 2000 até  2001 e a narradora é jovem. Ela tem um apartamento que, por morte dos pais, recebeu como herança assim como dinheiro na conta bancária. Quando é despedida por dormir no serviço resolve que o melhor é dormir durante um ano! Para o conseguir consulta uma psiquiatra que é uma absoluta nulidade, dado que acredita em todos os sintomas que ela lhe vai relatando.A psiquiatra até está bem retratada e acho que poderá ser entendida como uma crítica aos profissionais de saúde que não estão verdadeiramente a ajudar os pacientes ao limitarem-se a prescrever medicamentos.

Nesta história, além da crítica aos profissionais de saúde, passou também a ideia de que as pessoas ricas podem ser deprimidas à vontade porque têm mais hipóteses não fazer nada (o que não deixa de ser verdade).

Não obstante, o facto de não se poder comprar felicidade não significa que não se possa comprar tempo, uma vez que ter tempo para cuidar de si próprio/a é um luxo que é negado à maioria das pessoas que não têm dinheiro e que têm de ir para o trabalho todos os dias, mesmo deprimidas. 

Otessa, provavelmente, pretendia com esta história demonstrar como alguém pode andar sonâmbulo pela vida. Infelizmente, não gostei da pouca evolução da história, nem do tratamento dado à amiga, que também tinha problemas mais do que suficientes.

 No final, fiquei super feliz por ir ler o que me apetecer em absoluto relaxamento.

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A Luz invade o teu 

olhar.

Corre suave

o som

do despertar,

da vida,

que continua

aceleradamente.

A cor repousa 

no Instante

em que observas,

transformando os dias

em tempo de amor.

Mas mesmo sem ver

ela volta

para te aquecer,

iluminando os teus dias

em tempos de Primavera.

 

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A velhice devia habitar apenas a alma (digo eu)

Três mulheres no beiral, de Susana Piedade

23.03.23

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Sinopse: Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando - ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo - os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.

Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.

Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.

 

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Opinião:  

Este livro foi a minha estreia com esta autora e a escrita deixou-me rendida. Mas...
A história é bastante plausivel, realista e dura, e um tanto a puxar a melancolia, ou não fosse o tema de fundo a velhice, a solidão, sentimentos e segredos de família.
A personagem principal, Piedade, é uma senhora idosa com a qual criei empatia imediata. Ela vive numa casa na Baixa do Porto e o terror instala-se quando os potenciais investidores fazem ameaças para se livrarem dos inquilinos. A meu ver quando há negócios é sempre assim e o pior é quando a família também quer tirar aproveitamento da situação.
Gostaria muito de ter adorado esta história, mas, e agora passo a explicar, fiquei um tanto deprimida, porque a velhice bem que poderia apenas habitar na alma e porque era bem melhor sermos velhos só por dentro e não por fora. 

Este livro fez-me pensar e sentir e há momentos na vida em que prefiro a ficção à realidade. Este foi um deles.Pronto, tenho dito. Em minha defesa argumento que enquanto leitora transporto muito de mim para as leituras e por isso nem sempre tenho a mesma opinião. 

Experiências de quase morte

Estou viva, estou viva, estou viva, de Maggie O´Farrell

20.03.23

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«Quando és criança, ninguém te diz: vais morrer. Tens de descobrir isso por ti. Algumas pistas são: a tua mãe a chorar e, depois, a fingir que não estava a chorar; não deixarem os teus irmãos virem visitar-te; a expressão de preocupação, gravidade e um certo fascínio com que os médicos olham para ti; a maneira como as enfermeiras se esforçam por não te olharem nos olhos; familiares que vêm de muito longe para te verem. Quartos de hospital isolados, procedimentos médicos invasivos e grupos de estudantes de Medicina também são sinais claros. Ver ainda: presentes muito bons.»

Uma doença na infância que deveria ter sido fatal, uma fuga em adolescente que quase termina em desastre, um encontro assustador num caminho isolado, um parto arriscado num hospital com falta de pessoal - estes são apenas quatro dos dezassete encontros com a morte que Maggie O’Farrell, autora multipremiada e uma das vozes mais interessantes da literatura atual, relata na primeira pessoa. São histórias verdadeiras e fascinantes que impressionam, comovem, arrepiam e, sobretudo, nos fazem recordar que devemos parar, respirar fundo e ouvir o bater do coração.

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Opinião:  

Já há muito tempo que queria ler este livro de não ficção, mas só recentemente consegui encontrar o livro na Biblioteca Municipal. Neste conjunto de 17 pequenos textos a autora conta momentos em que a sua vida esteve em risco sempre associado a uma parte do corpo ( coração, cabeça, pescoço, etc). São momentos de alguma preocupação, no entanto, não senti que me estivesse a preocupar muito. Talvez porque a escrita desta autora é simplesmente maravilhosa e cativante. Talvez porque cada história está muito bem contada. Ou talvez porque só me apercebi de que se tratava de não ficção depois de pesquisar sobre o livro e a autora. São muitos talvez, é certo, e creio que a vida também é assim, um conjunto de talvez em que esperamos sobreviver ao dia a dia, aos problemas, mas talvez ainda não seja hoje o dia em que estava destinado a morrer.

Deixo a nota das dúvidas que assolaram o meu pensamento (se bem que que gostei imenso de ler).




Diferenças

Parte 2

17.03.23

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Thriller "à moda" dos nórdicos

O gelo sob os seus pés, de Camilla Grebbe

16.03.23

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Sinopse:

Os inspetores Peter Lindgren e Manfred Olsson enfrentam um crime chocante: uma jovem mulher foi decapitada numa casa de classe alta nos subúrbios de Estocolmo. Um crime que se torna mais perturbador pela semelhança com um assassínio por resolver, dez anos antes. Só que, desta vez, a polícia tem um suspeito.
Jesper Orre é o carismático e controverso diretor executivo de uma famosa cadeia de lojas, e o dono da casa onde a mulher foi assassinada. Nada no seu perfil, contudo, nem mesmo a fama de playboy, sugere que possa ter cometido um crime semelhante. Além de que ninguém sabe onde ele está.
Na busca por um motivo e pelo paradeiro do seu suspeito, os inspetores recorrem a Hanne Lagerlind-Schön, uma brilhante psicóloga comportamental presa a uma reforma e a um casamento infeliz. Mas eles não são os únicos que o procuram. Dois meses antes, Emma Bohman, uma funcionária de Jesper, envolveu-se numa relação secreta com o seu diretor. E tão depressa nasceu o caso amoroso entre ambos, como terminou, quando ele a deixou, sem qualquer explicação. e Emma, devastada e confusa, não descansará até o encontrar e obter respostas às suas perguntas.
Numa busca paralela pelo mesmo homem, Emma e a polícia estão destinados a cruzar caminhos até descobrirem o que realmente aconteceu.

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Opinião:  

 

Mais uma estreia com uma autora que não conhecia: Camilla Grebe. Os nórdicos estão sempre a surpreender com novos thrillers/policiais e acho que o fazem muito bem.

Como não podia deixar de existe crime e detetives com problemas, e a história é contada sob  três pontos de vista, o que enriquece bastante a leitura. Aliás, o enredo está muito bem conseguido, só não gostei muito de ter advinhado final.

É uma ótima leitura para intercalar com outras, "mais pesadas" , ou que demoram imenso para terminar, porque, não sendo uma história propriamente "levezinha",  por causa do sangue, como dirão os mais sensíveis,  é um thriller "à moda" dos nórdicos que prende a atenção.

 

Ainda bem que não gostamos dos mesmos bolos!

Bolo negro, de Charmaine Wilkerson

13.03.23

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Sinopse:

Os irmãos Byron e Benedetta não se veem há oito anos, mas a súbita morte da mãe obriga-os sentarem-se finalmente à mesma mesa. Eleanor deixou-lhes um bolo no congelador com a críptica instrução de que o deverão partilhar «na altura certa».
Para além do bolo, uma homenagem às origens caribenhas da família, há ainda uma longa gravação áudio que abre com uma revelação impensável: Byron e Benedetta têm uma irmã.
Este, porém, é apenas o primeiro dos muitos segredos que a mãe quer agora, depois de morta, revelar, na esperança de emendar alguns erros do passado.

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Opinião:  

Este é o livro de estreia desta autora e, apesar de ter gostado da escrita simples e fluída, não fiquei fã dos personagens que vão sendo introduzidos, rapidamente, ao longo da história, em capítulos demasiado curtos, entre o passado e presente.

O bolo negro é um bolo feito com rum e frutos secos e a receita passa de geração em geração. Uma ligação familiar que dá sabor ao enredo.

Nesta história familiar,  que decorre entre as Caraíbas, passando pelo Reino Unido e pelos EUA, existem segredos e um mistério relacionado com um crime, mas, na minha opinião, surgem demasiados personagens, muitos recomeços e desencontros que são pouco credíveis. Uma miscelânea, que não confere qualquer densidade à história em si, uma vez que não há um aprofundamento.

Fazendo, aqui, uma analogia, é como se houvesse necessidade de juntar mais um ingrediente, depois mais outro, e mais outro, "batendo bem", e surgisse uma história sobre vários temas (racismo, amizade, liberdade e multiculturalismo).

Vou mais longe, ainda, e atrevo-me a dizer que este "bolo" saiu algo queimado - mas se calhar é culpa minha, porque, enquanto leitora, interpretei a receita à minha maneira.

Ainda bem que não gostamos todos dos mesmos bolos, digo livros!

 

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