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Opinião: Este livro suscitou-me de imediato a atenção, porque a capa se destaca em termos de design gráfico (como podem ver na fotografia) e porque tenho lido alguns autores suecos que me brindaram com histórias de pôr os nervos em franja - o que adoro, devo confessar.
Nicklas Natt Och Dag, neste livro de estreia, recebeu um prémio da Academia Sueca de Escritores de Crime e recebeu vários elogios por esse feito. Num deles, o de Erik Axl Sund, é referido que se trata de «Um thriller histórico sem paralelo e de grande qualidade literária. É cru, elegante, comovente e extremamente cativante até à última página». Existem outros, mas acho que este comentário resume muito bem todas as qualidades do livro 1793.
Quando iniciei a leitura, estranhei logo o facto de a polícia parecer actual, com relatórios e comissários, o que me deixou um pouco de pé atrás no que ao rigor histórico diz respeito. Não obstante essa “ligeireza” histórica, acabei por gostar da narrativa sem quaisquer subterfúgios.
Mas vamos à história. Em Estocolmo, no Outono de 1793, um cadáver flutua no lago Fatburen. Dois pequenos vagabundos dão o alerta. E o guarda Mickel Cardell, sem o braço esquerdo, despe o casaco com dificuldade e nada em direção ao que julga ser uma carcaça de um animal. Mas então vê o corpo desfigurado, com a duas órbitas oculares vazias e, na boca, não vê um único dente. Entra depois em cena Cecil Winge, advogado, que trabalha com a polícia, que irá trabalhar no caso com o guarda Cardell e os dois irão procurar o assassino, começando por tentar descobrir qual a identidade do homem desfigurado e desmembrado. Para Winge é urgente encontrar esse assassino cruel, uma vez que está doente e sabe que não viverá muito mais tempo.
«Winge combate a morte com a mesma bússola que o guiou toda a vida – a razão. Esta diz-lhe que todos temos de morrer e que todos estamos a morrer. Ajuda. Mas, quando os suores nocturnos chegam e a mente vagueia livremente, é a sua morte em particular que o atormenta, não a ideia de morte em geral. Contempla todos os pormenores. A infecção irá espalhar-se pelas articulações e pelo esqueleto, como o que acontece a muitos dos que sofrem desta doença? Irá morrer no sono ou em agonia e paroxismo? Que tormentos sofrerá? Quando mais nada ajuda, tenta convencer-se de que a maior parte de si morreu da última vez que viu a mulher. Mas é um fraco consolo quando a parte de si que ainda vive é aquela que consegue sentir dor».
Winge, que é justo, racional e inteligente, bebe para esquecer. Achei impressionante a forma como os personagens masculinos tentam resolver os problemas recorrendo à bebida, mas, no século XVIII, era um hábito muito comum. Penso que seria uma forma de sobreviverem à realidade, à miséria e às injustiças e agruras da vida. Curiosamente, Kristofer Blix é um cobarde que, surpresa, também bebe, e nós vamos ficar a conhecer a sua história através de cartas que ele escreve à sua irmã, já falecida. Uma narrativa diferente da anterior, mas que resultou muito bem, uma vez que aí é relatada toda a vida deste personagem.
Depois de ter ultrapassado a reacção de estranheza inicial, comecei a questionar, ainda, o facto de este livro não ter a presença de uma personagem feminina forte e corajosa. De facto, até à terceira parte (o livro tem quatro partes), apenas é feita uma breve menção à mulher do Winge e à prostituta Johanna, sendo que, quando surge a Anna Stina, quase a meio de livro, esta personagem feminina introduz um novo folgo ao enredo. Ela é surpreendente e muito diferente dos outros personagens, o que torna tudo mais interessante.
No livro, 1973, existem muito personagens, os quais vão surgindo e desaparecendo de seguida. Mickel Cardell, Cecil Winge, Kristofer Blix e Anna Stina, são os que se destacam e, embora, no decurso da história, tenha gostado mais de uns do que outros, todos tiveram um final que foi do meu agrado.
O escritor conseguiu dar uma nova voz à ficção histórica. A narrativa é dura, crua e sem qualquer tipo de enfeites linguísticos. As personagens são interessantes e bem desenvolvidas. E a história é intensa, invulgar e muito bem escrita. Gostei muito. Vale a pena ler.
Classificação: 5/5*