Layout - Gaffe
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Mais um ano. mais um desafio e mais uma história (*uma brincadeira da Patrícia) para contar. Lembram-se da Avó Maria do ano passado? Se calhar não, mas não faz mal. O que interessa é que leiam a nova história com os livros lidos durante o ano 2017
Na Altura, as Flores eram muito raras. A Primavera andava um pouco tímida e os rebentos ainda não tinham despontado.No entanto, no ar pairava um perfume, e respiravam-se as cores da alegria, o calor do contentamento, e os animais, claro, chilreavam em consonância. A expetativa aumentava, afinal, quem espera, desespera, quando alguém rompeu a ordem natural e surgiu uma conversa pouco habitual:
- O meu nome é Lucy Barton. - disse a rapariga de saia rodada e colete vermelho.
- Ai, é? E o meu nome é Um estranho lugar para morrer e a seguir vais comer!!! - disse o João, conhecido por ser o grande fanfarrão, mal educado, obtuso e complicado da escola.
- É Lucy, sim senhora. Ou melhor sabes que é Lúcia com Y que é mais elegante - pediu a rapariga.
- Então eu sou o Jonhny porque é finório e a condizer. Ahahahah - riu-se o João.
- Não sei se sabes, mas estou a ler O crime do padre amaro e embora seja o grande pecado, mudar o nome não! - disse a Lúcia.
- Ah, pois, um padre a comer uma gaja é normal. Só faltou o padre ir de Lua-de-mel e tudo! - atirou o João a ver se a conversa pegava.
- O Eça era muito corajoso para a época e falou de coisas que se passaram. Só é pena que tivesse superstições e que pensasse n´O gato preto como dando azar- disse Lúcia tentando mudar de assunto.
- Falando em Lua-de-Mel, que tal irmos os dois a Paris. Paris é uma festa!
-Estás sempre a bater na mesma tecla, João. Assim não dá para conversar contigo. Ouve com atenção: vou dar-te uma última oportunidade - disse Lúcia - porque precisamos de fazer um trabalho para a escola sobre A história de uma gaivota e do gato que ensinou a voar.
- Raios, exclamou o João, julgava que era O convidador de pirilampos!
- Eu é que tenho a cabeça no ar e afinal está-se mesmo a ver - disse Lúcia sem confessar que tinha espreitado O diário oculto de Nora Rute em vez de começar a fazer o trabalho.
- Até parece que vai existir Crime e castigo por não fazermos esse trabalho! Estou a começar a ficar farto de tanto papel e de tanta escrita. Estou farto da escola! Podiamos realizar os dois Os sonhos que tecemos, hum, não achas? - disse o João piscando o olho.
- Olha O gato malhado e a andorinha sinhá eram muito apaixonados e não ficaram juntos, portanto, tira lá o cavalinho da chuva!!! - respondeu Lúcia que corou de repente.
- Pensas que atrás dos livros ninguém vai namorar?! Ai, Lúcia, estou cada vez mais entusiasmado e a pensar no casamento! - disse o João.
O João era fanfarrão mas, pensou no que O vendedor de passados lhe fez ver. O seu passado não o impediria de se tornar numa pessoa melhor. Agora, restava-lhe convencer Lúcia de que tinha mudado, embora fosse um bocadinho difícil de encerrar o passado e expressar o quanto estava apanhadinho por ela. Mors tua, vita mea, uma expressão em latim que aprendeu e que esperava que ela entendesse quando fosse a altura.
- Gostavas de casar comigo n´A praia das pétalas de rosa, algures na Palestina? - perguntou o João sem pensar.
-Temos apenas 15 anos, João. Por favor, acaba com isso. O meu pai havia de gostar de fazer o trabalho d´O leitor de cadáveres sobre o teu corpo morto!
- Oh, Lúcia não sabes nada d´A saga de um pensador. Eu penso no futuro. Vida após vida, estamos destinados a ficar juntos. Quando for famoso vou cobrir-te de joias e serás a minha Boneca de Luxo! - disse o João entusiasmado.
- João, credo! Esse livro não. Acho que viveria uma vida de Felicidade Roubada. Podemos pensar no futuro e n´A livraria dos finais felizes. Podemos pensar na altura em que Vamos comprar um poeta. Depois de ler O velho e o mar, que foi Escrito na água, A casa de bonecas ficará totalmente esquecida.
- O homem mais inteligente do mundo, o meu pai, não sei se sabes Ele está de volta, e não vai gostar, João. Os meus pais foram Emigrantes e desde que o meu pai é O leitor do comboio a vida até corre bem. No outro dia, falamos no livro do Eça e ele não ficou nada chocado. Disse que pior, pior era o padre d´O vermelho e o Negro. Não entendi, mas espero arranjar o livro...
- No Verão,...- interrompeu o João- e daí não passa. Já não consigo viver sem A outra metade de mim, continuou. Quando o cuco chama, como ontem, podes crer no que digo. No Verão, vamos Comer e amar em Paris. És a Lucy, A rapariga de antes, mas depois não te lembrarás de mais nada. Ainda não sei se o feitiço das Bruxas fará com que digas Obrigada pelas recordações. Já planeei tudo. Vamos morar na casa do lago do meu pai. Existe O mistério do lago e podemos tentar descobri-lo juntos. O teu pai nunca mais vai perturbar a nossa vida, quando muito escreverá cartas À minha filha em França.
- João, estás a ser verdadeiramente irritante. Sinto como A noiva Bórgia que serve os interesses, neste caso os de um rapaz mimado. Sinto como Uma abelha na chuva a tentar viver a minha vida quando ainda não tive tempo para voar. Eu sei que Os livros que devoraram o meu pai e que ele é quase o Dom Casmurro preocupado com Os olhos de Ana Marta, mas acho que não tens futuro para mim, nem que fosses O Pianista de Hotel ou um professor interessante de Às terças com Morrie!
Lúcia virou as costas e seguiu para casa. Estava cansada. O seu coração simples não acompanhava os sonhos do João. Sentia-se no abismo e a ser empurrada pel'O assassino do Aqueduto. Em queda livre, nos seus pensamentos, deu-se conta que os Bichos se calaram. O silêncio enorme pesava. E a Primavera não chegava... naquele entardecer, a Lei e corrupção* tecia teias dignas de O bicho-da-seda*. Incrédula, ela pensava no pai e n´Os últimos dias dos nossos pais*...
Na Imaginação, e em Altura, respiravam-se as cores da alegria e o calor do contentamento...
* Livros (ainda) sem opinião escrita aqui no blogue.
Para o ano há mais. Boas Festas!