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 Achei a escrita brilhante, algo poética, e muito original, mas isso não aconteceu logo, nem foi "amor" à primeira vista. Aprendi a gostar quando "digeri" a história e, a certa altura, percebi a estrutura da narrativa. Portanto, no início, estranhei e não conseguia perceber bem quem, onde e porquê, nem a razão de estranhar tanto as palavras. Na leitura, andei como se estivesse perdida à procura da rua certa e a navegar na incerteza (Será bom? Será mau?). No entanto, mantive a mente aberta e embarquei no desconhecido (ainda não tinha lido nada deste autor).

Félix Ventura, um albino angolano, vende passados, e a osga, que assume o papel de narradora participante, narra e percebe tudo o que se passa. Mas embora se perceba logo quem é Félix, o mesmo não acontece com a osga. Só lá mais para o meio do livro é captei que o narrador era uma osga e que esta tinha sido, numa reencarnação anterior, um humano chamado Eulálio.Enfim, mais vale tarde do que nunca, lá diz o ditado popular.

O Félix constrói histórias e árvores genealógicas fantásticas para figuras importantes da sociedade cujo passado é duvidoso mas que saem como se fossem descendentes de "sangue azul".  Podemos "ver" aqui uma crítica à sociedade angolana e aos valores presentes na mesma e, na minha opinião, essa capacidade crítica é camuflada pela forma de escrever do autor. Tanto assim é que só depois de a história avançar, se percebe o alcance de certas frases (e quem concordar que ponha a mão no ar ou escreva um comentário).

Também eu crio enredos, invento personagens, mas em vez de os deixar presos dentro de um livro dou-lhes vida e atiro-as para a realidade.

 

Sinopse: Félix Ventura. Assegure aos seus filhos um passado melhor. É a partir deste cartão-de-visita que se desenrolam os capítulos de "O Vendedor de Passados", novo romance de José Eduardo Agualusa. A mentira e a verdade, o(s) homem(s) e o(s) seu(s) duplo(s), a memória e a memória da memória, a ficção e a realidade. Angola ("é importante ironizar com a sociedade angolana, que é uma sociedade que se construiu e se continua a construir assente em muitas ficções" - o autor ao Público, 19/06/04). Tudo poderia acontecer. Tudo poderia ter acontecido. «A determinada altura a osga recorda a mãe num momento da sua vida passada: "Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros" (p.122). José Eduardo Agualusa provavelmente escolhe a vida.


2 comentários

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De Narciso Santos a 10.05.2017 às 12:07

Tem a ver com Angola, aí está um livro que não irei ler :) 
Trazem-me más memórias aquele país...
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De Editepf a 11.05.2017 às 13:52

Mas olha que vais ter de ler quando te chegar no correio. Eu assim espero. Gostaria de saber depois a tua opinião.
bjs


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